MAFALDA DOS SANTOS
( Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil )
SANTOS, Mafalda dos. Favas contadas – Poesias. Porto Alegre, RS: Grafosul, 1981. 72 p. 14 x 21 cm
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro Brito (DF).
ESCURIDÃO
Nesta rua fria — escura
Onde alguma procura
É o próprio desdém
Eu me procuro, me resguardo
Me guardo, como minha refém
Nesta escuridão gigante
Tateando a mim mesma
Procurando resposta
P´ras minhas certezas
Nesta rua — escura
Eu me encontro perdida
Aflita? — Nem tanto —
Mas já visualizo
Meu pranto futuro
Pois se neste escuro
Eu não me encontrar
Nesta rua tão fria
Só me resta chorar.
DOIS MUNDOS
Sinto-me em dois mundos
Adversos
Perversos, estranhos entre si
Sou resultado de duas fronteiras
Porteiras que se cruzaram
Entrelaçaram-se
E se amaram
Onde a lei era a chama
Que a todos inflama
Sem qualquer preocupação
E sou o resultado
Desta combustão desmedida
Ferida, amada
Reúno dois mundos
Na minha pele:
Um domina, chicoteia.
Discrimina, pisa,
Elimina
O outro:
Se escraviza, se rebela
Apela por igualdade
Na minha pela trago dois mundos:
Escravidão e liberdade.
FLASH
Ah! Este dia tão claro
Estes pássaros cantando
Num instante tão raro
Esta música ditando
O caminho a seguir
Ah! Este cenário
Canário cantando
Ninguém fumando
— Nem as fábricas —
Ah! Impossível pensar
Que este lugar existe
É... imaginar.
RETRATO
Se me perguntassem
O que é a morte
Eu indicaria um quadro|
Trágico
Que eu vi:
Um viaduto
— abaixo —
Sangue humano espalhado
Transeunte espantado
Olhos tapados
— Querendo não ver —
Aglomerado de gente
Gente presente
E tão ausente
Dos destroços do corpo
Pedaços
Encontrados
Alheios uns aos outros
Restos de um corpo...
Morte:
Sangue e
Solidão de cada pedaço.
*
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Página publicada em setembro de 2021
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